Empresas de gestão prometem cortar 30% no condomínio; saiba se vale a pena

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Você mora num prédio e acha que a taxa de condomínio está muito alta porque a administração é amadora e desperdiça dinheiro? Empresas especializadas em gestão condominial prometem auxiliar o síndico a fazer um check-up completo no condomínio para economizar de 5% a 30% por mês.

Será que vale a pena? Qual a diferença entre essas empresas e as tradicionais administradoras? Especialistas dizem que é preciso tomar cuidado ao contratar o serviço porque pode significar apenas mais gastos.

E o advogado Michel Rosenthal Wagner, especializado em Direito Imobiliário, alerta: cuidado com eventuais serviços casados oferecidos por essas empresas. Em alguns casos, em vez de diminuir o condomínio, ele pode até aumentar.

Fernando Araújo, diretor da Soma 7 Gestão Condominial, diz que o serviço é útil. Segundo ele, dos cerca de cem condomínios já atendidos pela empresa, nunca houve um prédio em que não existisse ao menos um problema.

“O trabalho da gestão condominial é fazer uma auditoria em todos os processos do prédio para verificar possíveis irregularidades e assim melhorar não só o funcionamento do prédio, mas também diminuir os custos”, declara Araújo.

Como exemplo, ele diz que mudar um prestador de serviços caro demais ou fazer uma cobrança mais eficaz dos inadimplentes possibilita a redução desta taxa de condomínio. Araújo diz que usualmente consegue uma redução de 10% na taxa e, dependendo da situação do prédio, pode obter até 30% de redução.

Já Marco Antônio Gomes de Castro, consultor no Rio de Janeiro em gestão de condomínios desde 1999, autor de livros sobre o assunto e com clientes por Brasil, Portugal, Espanha e Angola, é menos otimista. Diz que a redução costuma girar entre 5% e 10% da taxa.

Ele avisa ainda que o corte do condomínio é uma consequência lógica no decurso do tempo por conta da maior eficiência dos processos, mas, num primeiro momento, o valor pode até subir.

Como exemplo, ele cita o caso de um edifício que estava em situação ruim havia 30 anos e precisava de uma completa manutenção. A síndica era proprietária de 11 dos 19 apartamentos e nunca havia autorizado nenhuma manutenção.

“Nesse caso, a taxa aumentou, pois foi preciso fazer as obras necessárias para manter o prédio. Mas, ao longo do tempo a tendência é reduzir o valor, pois fazemos um planejamento de cinco anos para que o condomínio planeje suas contas e não tenha concentração de gastos.”

Despreparo do síndico é problema

Castro diz que são poucas as empresas que prestam o serviço de gestão condominial diferenciado e que a procura se dá não só para diminuir a taxa do condomínio, mas para dar um tratamento profissional.

Segundo ele, a quase totalidade das administradoras de condomínio no Brasil apenas trabalham com softwares para gerar os balancetes contábeis do condomínio e cobram caro pelo trabalho. “Há empresas que cobram R$ 9.000 para fazer apenas isso”.

“Normalmente, os síndicos não questionam nem exigem nada, pois não têm conhecimento, são pessoas que são colocadas lá muitas vezes contra a vontade e não têm experiência nem bagagem para exigir mais”, diz.  “Mas com a figura do síndico profissional isso tem mudado.”

Principais problemas são inadimplência e gestão inadequada

Para verificar se a taxa de condomínio está elevada demais, é possível usar o Ipevecon (Índice Periódico de Variação de Custos Condominiais), indicador da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo).

Por esse indicador, a média de condomínio de um imóvel de três dormitórios em São Paulo, por exemplo, estava em R$ 1.025 pela última medição, em setembro de 2013. “Se estiver muito acima disso, é sinal de que algo pode estar errado”, diz Araújo, da Soma 7.

Ele afirma que, nos prédios antigos, os principais problemas costumam ser falta de manutenção, obras pendentes e também inadimplência. Já nos prédios novos, além da inadimplência, o principal problema é mesmo a gestão inadequada do condomínio e falta de planejamento do orçamento.

“A administradora faz a parte burocrática do condomínio, ela faz documentação, manda folha de pagamentos, paga os impostos e eventualmente ajuda em algo que o síndico peça. Uma empresa de consultoria vai fazer um levantamento completo, inclusive de contratos, para identificar se está tudo em ordem e dizer exatamente para o síndico o que precisa ser feito”, diz Araújo.

Entidade diz que boa administradora dispensa consultoria adicional

Para Hubert Guebara, vice-presidente de condomínios do Secovi (Sindicato da Habitação), não é preciso ter gastos extras se o condomínio conta com uma boa administradora que, segundo ele, já faz todo o trabalho citado por Araújo e Castro e auxilia o síndico na gestão do condomínio.

“As administradoras de qualidade realizam mais de 150 atividades para o condomínio”, diz. “Mas a empresa não pode ir contra o que o síndico decide. Se a administradora diz que uma obra precisa ser feita e o condomínio não faz, a culpa é do condomínio, que não colocou em prática.”

Omar Anauate, diretor de Condomínios da Aabic, diz que nem sempre é possível reduzir as despesas do condomínio. “Vejo empresas que prometem redução de 30% na taxa, mas pergunto: como vão fazer isso? O barato às vezes sai caro.”

Anauate diz que a maior custo de um condomínio, de 50% a 60% da taxa, é com despesas de pessoal. “Às vezes não há como reduzir a hora extra do funcionário, vai ter de mandar embora. Nesse caso, haverá um aumento da taxa, para só depois diminuir.”

“E se a sugestão for trocar um contrato de manutenção de jardim que cobra R$ 500 por um que cobra R$ 250 e acaba com o jardim? Lá na frente vai ter que mandar fazer o jardim de novo. Então é preciso cuidado com promessas.”

Saiba se vale a pena contratar síndico profissional para o condomínio

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O que é melhor para o condomínio? Um síndico morador, que seja proprietário e esteja presente na vida do condomínio ou um síndico terceirizado, que tenha um relacionamento mais distante com moradores e funcionários e de quem é mais fácil cobrar uma gestão profissional?

A resposta, segundo especialistas consultados, vai depender, principalmente, do tamanho do condomínio. Assim, o síndico morador serviria bem aos prédios menores, desde que auxiliado por uma boa administradora.

O síndico terceirizado tem sido uma demanda dos condomínios residenciais com muitas unidades e também dos condomínios comerciais.

Com o aumento dos condomínios-clube, a procura pelo síndico tercerizado vem aumentando, mas ainda é majoritária a opção pelo síndico morador, segundo Hubert Gebara, vice-presidente de condomínios do Secovi, o Sindicato da Habitação.

“Particularmente, acho melhor o síndico morador porque ele é uma sombra, está ali presente, todo mundo sabe que está pelo prédio. Mas reconheço que isso é mais difícil em condomínios maiores, porque senão o síndico teria que parar de fazer tudo para cuidar do prédio. Já o síndico profissional serve melhor aos condomínios muito grandes, que precisam ser administrados como uma empresa”, diz.

Para Omar Anauate, diretor de condomínios da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), é preciso ter cuidado com a real necessidade de contratação de um síndico profissional.

Segundo ele, o síndico morador costuma ter como remuneração a isenção da taxa de condomínio, mas um síndico profissional pode custa cerca de R$ 9.000. “É quase como se contratasse uma outra administradora. Precisa valer muito a pena”, diz.

Síndicos profissionais podem custar até R$ 15 mil

Segundo Fernando Araújo, da Soma 7 Gestão Condominial, o síndico profissional é um gasto a mais, “mas vale a pena”. Segundo ele, há síndicos que custam até R$ 15 mil por mês.

“Mas é um profissional que entende de legislação, contratação, tem experiência. Nos condomínios-clube, lida-se com orçamentos de R$ 10 milhões por ano e um volume de 300, 400 apartamentos. Não é um trabalho para amador.”

Araújo afirma que outro tipo de condomínio que também tem demandado a contratação dos síndicos terceirizados são aqueles muito ricos, com poucas unidades, em que ninguém tem tempo nem vontade de se expor num cargo de síndico.

“Um embaixador, um executivo não quer ter esse trabalho e esse desgaste”, diz.

Vantagem do síndico terceirizado é gestão profissional do condomínio

A maior vantagem do síndico profissional, segundo Marco Antônio Gomes de Castro, consultor de condomínios no Rio de Janeiro, autor de livros sobre o assunto e ele mesmo um síndico terceirizado, é que o síndico ou gestor profissional tem a vantagem de ser desprovido de vínculos com moradores e empregados, o que facilita a gestão profissional do condomínio.

Para ele, o principal erro dos condomínios ao escolher o síndico, é relegar esse trabalho como se fosse de uma importância menor.

“Escolhem pessoas para tapar um buraco, quebrar um galho, mas se esquecem de que o síndico, pela lei, é aquele que responde civil e criminalmente pelo condomínio.”

Síndico responde cível e criminalmente pelo condomínio

Segundo a lei, compete ao síndico:

  • Convocar assembleias;
  • Representar o condomínio legalmente;
  • Informar imediatamente sobre problemas judiciais ou administrativos;
  • Cumprir e fazer cumprir a convenção e as determinações da assembleia;
  • Zelar pela conservação das áreas comuns e pela prestação de serviços;
  • Elaborar o orçamento da receita e da despesa a cada ano;
  • Cobrar dos condôminos as contribuições e as eventuais multas;
  • Prestar contas à assembleia, anualmente e quando exigidas;
  • Realizar o seguro do prédio.

O ideal, para escolher um síndico, tanto morador quanto profissional, é avaliar o currículo da pessoa, cursos que já fez, inclusive antecedentes criminais.

Segundo o Secovi, há cerca de 190 mil condomínios no Brasil, sendo 40 mil só na cidade de SP. Em todo o estado de SP há cerca de 6 milhões de moradores e usuários de condomínios.

Não há estatísticas sobre quantos são administrados por síndicos moradores ou terceirizados.